quarta-feira, 6 de junho de 2007

Missão Integral ou brincando de super crentes?

“...e lhe deram o livro do profeta Isaías. Ele abriu o livro e encontrou o lugar onde está escrito assim: ‘O Senhor me deu o seu Espírito. Ele me escolheu para levar boas notícias aos pobres e me enviou para anunciar a liberdade aos presos, e dar vista aos cegos, libertar os que estão sendo oprimidos e aunciar que chegou o tempo em que o Senhor salvará o seu povo’. Jesus fechou o livro ... e disse: ‘Hoje se cumpriu o trecho das Escrituras Sagradas que vocês acabam de ouvir’” (Lc 4.17-21)


“Jesus andava visitando todas as cidades e povoados. Ele ensinava nas sinagogas, anunciava a boa notícia sobre o Reino e curava todo tipo de enfermidades e doenças graves das pessoas” (Mt 9.35)


“Agora eu sei que, de fato, Deus trata a todos de modo igual, pois ele aceita todos os que o temem e fazem o que é direito, seja qual for a sua raça. Vocês conhecem a mensagem que Deus mandou ao povo de Israel, anunciando a boa notícia de paz por meio de Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. (...) [Vocês]sabem também como Deus derramou o Espírito Santo sobre Jesus de Nazaré e lhe deu poder. Jesus andou por toda parte fazendo o bem e curando todos os que eram dominados pelo Diabo, porque Deus estava com ele” (At 10.34-36, 38).

Embora pareça um absurdo, está longe de ser ponto pacífico que a Igreja possua uma missão integral e menos pacífico ainda que parte desta missão tenha a ver com uma prática social. E isto é especialmente o caso entre os evangélicos brasileiros, que não somente pela sua orientação predominante (pentecostal) como também por sua origem missionária (setores mais conservadores do protestantismo norte-americano), tenderam e tendem a afirmar uma compreensão da missão da Igreja em somente evangelização (entendida como proclamação com vistas a converter pessoas para as igrejas evangélicas) mais estamos esquecendo que a prática de Jesus e de seus profetas era de procurar pessoas rejeitadas, ignoradas ou discriminadas pela sociedade de seu tempo; de romper com práticas intocáveis, como realizar qualquer trabalho (ou boa obra) no sábado; de fazer o bem como forma de evangelizar – curando, alimentando, acolhendo pessoas suspeitas ou tidas como indignas diante da sociedade – há mais isso é muito esquecido por “super crentes” que acham que se estão louvando a Deus ou sendo fiel em priorizar com exclusividade inquestionável a assim chamada pregação ou evangelização. Estão fazendo sua parte e pior muitos fazem “negócios” colocando o Nome de Deus mais na hora do “vamu ver” caem fora já é hora de refletirmos um pouco sobre o que é ser um Cristão por completo. Muitos querem Deus seja e aja como Deus da igreja, na igreja e para a igreja. Deus das quatro paredes. O modo de vida dos membros dessa comunidade religiosa não se pretende alternativo ao de seu tempo e seu mundo, senão no sentido de chamar o mundo para dentro da igreja, transformá-la numa super-associação, germe de uma sociedade que no limite e na melhor das hipóteses seria uma super-igreja, uma enorme programação semanal de atividades eclesiásticas – cultos, cânticos, orações, reuniões de estudos, “sociais”, etc. Muitos também vivem esquecidos de que nos primórdios da fé cristã o embate primeiro, o mais decisivo, que selou o destino do cristianismo, foi entre um grupo de “conservadores” (que pretendia manter-se dentro dos parâmetros da lei e da cultura judaicas) e um grupo de “liberais” (que reinterpretou radicalmente o sentido do evangelho como dirigido a toda e qualquer pessoa, de toda e qualquer raça, de qualquer dos sexos, em toda e qualquer condição social), e que não fossem os “liberais”, nós não estaríamos aqui hoje. Deste embate dependeu o destino de toda a pregação de Jesus. E tivesse prevalecido a visão dos conservadores, dos judaizantes, do partido da Lei, o cristianismo teria desaparecido melancolicamente, em meio a tantas outras seitas judaicas do primeiro século de nossa era. Em torno dessa iniciativa dos que, apesar de judeus, decidiram ir contra o entendimento teológico do judaísmo (e dos cristãos judeus) de seu tempo, destinando a mensagem de Cristo ao mundo do lado de fora de Israel, jogou-se o destino da fé cristã.

Falar de missão integral da Igreja também não é ponto pacífico porque há outros na igreja evangélica que até aceitam que faça parte dessa missão o serviço, a comunhão, o ensino e o testemunho, ao lado da proclamação (Kerigma), mas subordinam tudo a esta última. E se for preciso optar, estarão sempre prontos a sacrificar os demais em nome da pregação. Assim, temos um número de líderes leigos nas igrejas brasileiras que chegam a usar a expressão “missão integral” quando isso lhes convêm. Quando parecem mais modernos e arejados do que os fundamentalistas. Quando são abordados ou cortejados por gente importante, na religião ou na política. Quando são entrevistados na mídia, ou quando estão falando para uma platéia de cristãos que não são os de sua igreja local, congregação ou paróquia. Nessas ocasiões permitem-se falar de missão integral, de serviço ao mundo, da falsa oposição entre evangelização e ação social, etc. Mas estas pessoas se calam, se omitem ou censuram e até reprimem as expressões de pastoral em que a proclamação não é vista como a definição mais importante ou superior da missão da igreja. Ou seu discurso é da boca para fora, sem conseqüências no dia-a-dia da igreja de que participam, ou não querem ferir sensibilidades dos membros mais conservadores de sua igreja – embora apõem os poucos que se envolvem – ou ainda vivem uma vida dupla, em que seu engajamento social não tem relação alguma com sua vida eclesial, seu compromisso de fé. É preciso, então, por em questão as duas posições: a dos que resistem à compreensão da missão integral da e a dos que honram esta compreensão só de lábios, mas não se comprometem (ou se comprometem, sem ligar isso com sua fé). E dizer que creio firmemente que sempre quando a igreja se vê na circunstância de optar entre a pregação do evangelho e a demonstração dos efeitos e conseqüências deste na melhoria da vida (a vida em abundância que Jesus disse ter vindo trazer), ela está prestes a trair seu compromisso com o Mestre. Está em sério risco de fraudar sua missão.

Que fique bem claro que entre essas linhas que escrevi não quero julgar ninguém nem tampouco dar uma de “super crente”, Porque sei que erro e continuarei errando, no entanto creio também que o Deus que eu sirvo e conhecedor suficiente das minhas ações e suas ações e cabe a Ele somente a Ele nos julgar

Josy Durans

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